domingo, 8 de novembro de 2009

Canto Coral, Arte de Primeira Linha

Ganhar QUATORZE Grammy’s pelo trabalho com Canto Coral...

Receber um DISCO DE OURO da gravadora RCA pela primeira gravação de música clássica a vender mais de UM MILHÃO DE CÓPIAS...

Dá pra imaginar?

Nós, regentes e coralistas destas terras tupiniquins, onde a maioria torce o nariz para a Arte Coral, não conseguimos nem acreditar... Mas o lendário Robert Shaw realizou essas duas proezas.

Nascido em 1916, na Califórnia (EUA), Shaw era filho e neto de clérigos, mas sua influência mais importante parece ter sido o fato de que sua mãe cantava no coro da Igreja. Quando estudante, interessado em Filosofia, Literatura e Religião, acabou entrando para o Glee Club (*) de sua faculdade.
(*) Glee Clubs eram grupos de estudantes, principalmente rapazes, que se reuniam informalmente para cantar pequenas peças corais.

Então, em uma seqüência de eventos digna de um musical da Warner Brothers, Robert Shaw foi convidado a assumir o coral no lugar de um professor doente, no mesmo ano em que Fred Waring, famoso radialista da época, estava rodando um filme no campus. Waring ficou impressionado com Shaw e convidou-o a ir para Nova York para desenvolver o Fred Waring Glee Club. Nascia uma estrela da regência!

Em sua longa carreira de seis décadas, Shaw transformou a Regência Coral em Arte e elevou seus padrões a novos patamares de excelência. O primeiro grande reconhecimento de seu trabalho veio já em 1943, quando foi eleito, com apenas 27 anos de idade, o “maior Regente Coral americano” pela Associação Nacional de Compositores e Regentes.

Sua competência impressionou até mesmo o lendário Arturo Toscanini, reverenciado maestro, dificílimo de se agradar. Após ouvir a Nona Sinfonia de Beethoven cantada pelo Collegiate Chorale de Shaw (formado apenas por voluntários), Toscanini declarou: “Finalmente encontrei o maestro que estava procurando!”.

O Robert Shaw Chorale, criado em 1949, reinou durante 20 anos como o grupo coral que mais realizava turnês, tendo viajado a mais de 30 países da Europa, União Soviética, Oriente Médio e América Latina. Compositores do porte de Béla Bartók, Darius Milhaud, Benjamin Britten e Aaron Copland escreveram peças especialmente para o grupo.

Em 1967, Shaw criou o Coral da Orquestra Sinfônica de Atlanta, grupo de 200 vozes treinado à perfeição. Durante seus 21 anos em Atlanta, conduziu tanto a Orquestra como o Coro, e suas gravações ganharam 11 Grammys, seis dos quais por Melhor Performance Coral.

Ao se aposentar, conseguiu se dedicar à realização de um sonho: criou o Instituto Coral Robert Shaw, podendo se concentrar, pela primeira vez, na literatura coral a cappella e conduzindo uma série de festivais de verão no sul da França. Também eram muito concorridos seus workshops no Carnegie Hall de Nova York, com regentes e coralistas vindos de todas as regiões dos Estados Unidos.

Em 1999, ano de sua morte, tive o privilégio de participar, em Brasília, de aulas e ensaios com o Prof. Weston Noble, que fôra aluno de Shaw. Dele ouvi uma informação inesquecível: “Para cada hora de ensaio a realizar, Shaw estudava e se preparava minuciosamente durante duas horas.”

É... competência e sucesso não são mero acaso nem simples dom dos céus...

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